A voz que eu tinha, ou melhor, que eu tenho.

. sexta-feira, março 24, 2006

Queria continuar lendo o Sabino. Na verdade, ler é a atividade que mais me tem dado prazer nos últimos dias. O que me ocorre é que estou sem voz. Não por força da doença, mas por força de vontade já que levei um pitão do meu médico. O otorrinolaringologista, com todas as letras a que tem direito o seu título de bacharelado, me havia dito para tomar os comprimidos e fechar o bico; tomei os comprimidos, mas continuei a falar como nunca. Deu no que deu: agora não posso nem pensar em som partindo de mim. (A não ser os sons fisiologicamente inevitáveis. Mas evitemos os detalhes).


A Miguelli, minha namorada que às vezes faz papel de anjo, mãe, professora, enfermeira (este quase sempre já que sou um doente profissional) e, felizmente, também o de namorada, vive levantando a sua voz para mim quando eu penso em usar a minha. Sem voz ativa e sendo ela a voz da razão continuo no meu papel de afônico.

Mas, diga-me você: já ficou sem poder falar? (Antes que me demore demais e me esqueça, eu estou com laringite. E como dizia minha professora de canto, a laringe é por onde se canta o lá, lá, lá. Portanto, se come pela faringe.) Voltemos à laringe inflamada.

Se você, meu amigo leitor, já precisou ficar sem falar ou perdeu a voz por força da doença deve ter idéia do que estou passando. Um impotente. É assim que tenho me sentido. Quanto à impotência sexual não sei se há semelhanças, mas de qualquer forma, não ter potencial para realizar uma simples atividade como abrir a boca e falar é deprimente.
No início, até que tem lá a sua graça esta história de mudinho. É um constante jogo de mímica e muito feliz fica quem consegue entender o que eu quero falar. Até a Miguelli ficou toda empolgada com a idéia de poder falar, argumentar, retrucar e receber de volta apenas um silêncio de aprovação. Mas com eu disse, era tudo empolgação inicial. Passados quatro dias (nem parece tanto tempo assim, mas para quem faz Comunicação e requere palavras faladas a cada minuto é tempo pra mais de metro), percebo que minha namorada, meus amigos e eu já estamos de saco cheio da “brincadeira”.

O Zézão, que de José não tem nada, afinal o nome dele é Robson, já me fez ameaças de arrancar, com as próprias mãos, a minha garganta e por outra no lugar. O Preto, que inicialmente me fez companhia afônica, já que de tanto gritar num jogo ficou rouco, agora já melhorou e me faz sentir uma inveja do tamanho do Sergipe. Falo do Sergipe porque é pequenininho. Eu não sou invejoso. É só por ora. E, por fim, cito a minha namorada-enfermeira-anjo, que já não deve mais agüentar ter que me dar tanta bronca por eu soltar sussurros periodicamente.

Felizmente, amanhã pela noite eu já poderei falar. Não à vontade senão estrambica-se tudo novamente, mas poderei falar como uma pessoa moderada, feliz e, é claro, potente. Amanhã eu volto a ser eu mesmo já que da forma como tenho me portado nos últimos dias nem eu chego a me reconhecer.

Como toda experiência, essa minha de mudez – por favor, não confunda com nudez – vai me trazer conseqüências. E acho que já sei qual será o resultado: vou começar a medir mais as minhas palavras, considerando que todo esse silêncio a mim imposto me fez valorizar a oralidade. Piadas, fofocas, trivialidades e banalidades ainda têm espaço, afinal elas são muito bem-humoradas e bem-vindas. O detalhe é que agora me importo mais com as palavras de silêncio, mas aí já entramos em outra crônica e talvez a minha voz ainda não agüente tanto assunto.

1 comentários:

Anônimo disse...

Meu amor...
nossa vc ja esta cansado de ouvir eu falar o quanto vc escreve bem neh meu lindoo...o quanto eu adoro esse seu talento...
Mas hoje eu vim aki fazer o papel de namorada..ja que o de enfermeira eu ja fiz neh te xingando um pokinhoo..mas saiba q fiz com dor no coração mas era necessario neh ..
Mas vou fazer meu papel de namorada agora...
meu lindoo te adoro em tudo tudo tudo...amei todos seu elogios nem eu sabia q tinha tantos papeis assim na sua vida hehehehehe
soh uma obs:essa paret de impotente ..que fike bem claro eh que da voz...e mais uma coisa...
"Passados quatro dias (nem parece tanto tempo assim, mas para quem faz Comunicação e requere palavras faladas a cada minuto é tempo pra mais de metro), percebo que minha namorada, meus amigos e eu já estamos de saco cheio da “brincadeira”."
jamais me encheu o saco essa "brincadeira" pelo contrario adorei..mas eh claro prefiro vc assim falando todo lindooooo..
bom acho q era isso hahahahaha
te adoro demais viu..
e eh claro ..
EU SEI QUE VOU TE AMAR...