Como qualquer outro projeto científico, o da produção de genes mutantes também teve fins lucrativos. Assim que se comprovou que os genes humanos podiam ser alterados, os donos de empresas farmacêuticas se apressaram: “Vamos vender o líquido alterador de genoma em frascos de vidro. Vai ser um sucesso! Já sinto o cheiro do dinheiro”.
E assim foi criado o Genetix, que também podia ser pedido em sua fórmula genérica, o Genesíaco Deeneático Cromossômico. A publicidade do composto nas revistas era um esplendor: misturava tons de dourado com letras prateadas. Era de ofuscar os olhos. Só não era mais ofuscante que sua publicidade na TV. Não que a propaganda televisiva se passasse em um fundo dourado e as pessoas que faziam os anúncios fossem prateadas, mas o apelo discursivo era impactante: “Seja quem você quiser. Tome Genetix e ganhe asas.”
O frenesi foi geral. Até quem não tinha dinheiro para comprar queria dar um jeito de consumir a fórmula remodeladora de DNA.
- Olha só, eu ouvi dizer que se você misturar Maizena, limão, dois ovos, pimenta malagueta, leite desnatado e um pouco de orégano dá quase o mesmo efeito.
- Tem certeza? Parece que só faz sujeira.
- Bom, foi o que eu ouvi de um médico naturalista americano no programa da Ana Maria Braga. E ele era desses que impõe respeito. Tinha cabelo loiro, óculos e tudo o mais.
- Bom, quem sabe... Você tem dois ovos pra me emprestar?
O novo remédio mexeu com os ânimos da população porque prometia efetuar mutações distintas.
Com o composto da caixinha azul real turquesa era possível ganhar músculos sobrenaturais nos membros inferiores do corpo. Assim, um humano, que em situações comuns é capaz de alcançar, no máximo, 35 quilômetros por hora em uma corrida, a partir da ação do Genetix passou a correr na casa dos 100 quilômetros por hora.
Já o composto da caixa rosa salmão claro possibilitava ao seu consumidor uma força sobrenatural nos braços. Houve até um boato de que um tcheco, que já tinha por hábito o de freqüentar a academia por cinco horas diárias, ao tomar o composto rosa claro passou a freqüentar estacionamentos de caminhão. O lugar passou a ser seu novo centro de treinamentos. Levantamento de Scanias e agachamento com caminhões-baú eram seu maior desafio. Mas boato é boato e ninguém conseguiu entrevistar o tal tcheco.
A terceira mutação possível era a da anti-gravidade. O sujeito que tomasse o Genetix da caixa amarelo desbotado imediatamente ficava imune a ação gravitacional da Terra. Dessa forma, um pequeno impulso era o suficiente para ganhar os ares com uma velocidade tremenda.
No entanto, era a última e quarta mutação gerada pelo remédio que mais atraia o olhar e o dinheiro das pessoas. A substância da caixa branco lácteo era comumente chamada de “milagre traiçoeiro”. O tal milagre era a mutação que tornava o usuário em um não-usuário, ou, melhor dizendo, em alguém invisível e aparentemente inexistente. A traição ficava por conta do fim do efeito a qualquer momento. Esse era o composto mais instável. Enquanto as outras três substâncias tinham um período de duração de 4 horas, o “invisibilizador” podia permitir uma mutação de até 5 horas, ou até mesmo, uma pequena mutação de 1 hora. Infeliz do consumidor que tivesse o efeito de seu Genetix branco lácteo interrompido no momento em que realizava o desejo de andar nu pela avenida Paulista. Um escândalo!
E escândalo foi o que aconteceu após três semanas do lançamento do modificador genético. Como facilmente acontece, a novidade passou a ser usada por criminosos. Após o furto de um grande carregamento de Genetix em uma rodovia paulista, começaram a surgir denúncias de crimes cometidos por super-humanos.
Uma velhinha de 89 anos disse que não teve nem tempo de reagir quando um trombadinha papa-léguas roubou sua bolsa e saiu correndo como se fosse vento. A bengalada da idosa senhora sequer triscou no garoto e ainda acabou acertando uma outra senhora, bem ranzinza por sinal. As duas velhinhas saíram no tapa e uma delas acabou escorregando e quebrou a bacia.
Outro grande problema aconteceu em uma penitenciária no interior do Mato Grosso. De alguma forma, imagina-se que dentro de um bolo gigante de aniversário que entrou despercebido no complexo presidiário, cerca de 100 frascos com o Genetix anti-gravidade foram parar nas mãos, ou melhor, no organismo de 100 detentos. A fuga foi imediata. O único prisioneiro resgatado foi um que voava para visitar a mãe no Rio Grande do Sul. No meio do caminho, o efeito do remédio acabou e o rapaz teve a má sorte de cair no pátio de outro presídio. Dessa vez ficou preso em Caxias do Sul. Ao menos se livrou do calor do Mato Grosso, que ele odiava.
Mas o maior de todos os escândalos envolveu o presidente do Senado Federal. Acusado de corrupção, espionagem e de traição conjugal, o senador resolveu fazer um último discurso.
- Senadoras. Senadores. Venho a este nobre palanque para dizer minhas últimas palavras.
O parlamento ficou em apreensão. Será que o presidente da Casa não havia agüentado a pressão e agora ia se suicidar publicamente?
- Gostaria de dizer que não mereço ser acusado como está acontecendo. Sou um sujeito honesto e que luta pelo povo. Pena que o povo não perceba isso. Pois bem, vou-me embora.
E virou um frasquinho de Genetix. Desapareceu. Imediatamente mandaram trancar as portas do senado. Sabiam que a substância ingerida pelo senador era o “invisibilizador” branco lácteo.
Mas passadas três horas sem nada encontrar descobriram que o parlamentar tinha sido mais esperto. Esbarrou em um segurança, que rapidamente lhe segurou. Mas antes que o fortão o denuncia-se sugeriu: “Te arranjo um frasco de Genetix da cor que você quiser”. Carlão, como era conhecido o segurança, aceitou. Afinal, queria mesmo era fugir da mulher e ir viver em Fernando de Noronha. Ganhou um frasco amarelo desbotado e hoje está lá em Pernambuco, curtindo a praia.
E assim foi criado o Genetix, que também podia ser pedido em sua fórmula genérica, o Genesíaco Deeneático Cromossômico. A publicidade do composto nas revistas era um esplendor: misturava tons de dourado com letras prateadas. Era de ofuscar os olhos. Só não era mais ofuscante que sua publicidade na TV. Não que a propaganda televisiva se passasse em um fundo dourado e as pessoas que faziam os anúncios fossem prateadas, mas o apelo discursivo era impactante: “Seja quem você quiser. Tome Genetix e ganhe asas.”
O frenesi foi geral. Até quem não tinha dinheiro para comprar queria dar um jeito de consumir a fórmula remodeladora de DNA.
- Olha só, eu ouvi dizer que se você misturar Maizena, limão, dois ovos, pimenta malagueta, leite desnatado e um pouco de orégano dá quase o mesmo efeito.
- Tem certeza? Parece que só faz sujeira.
- Bom, foi o que eu ouvi de um médico naturalista americano no programa da Ana Maria Braga. E ele era desses que impõe respeito. Tinha cabelo loiro, óculos e tudo o mais.
- Bom, quem sabe... Você tem dois ovos pra me emprestar?
O novo remédio mexeu com os ânimos da população porque prometia efetuar mutações distintas.
Com o composto da caixinha azul real turquesa era possível ganhar músculos sobrenaturais nos membros inferiores do corpo. Assim, um humano, que em situações comuns é capaz de alcançar, no máximo, 35 quilômetros por hora em uma corrida, a partir da ação do Genetix passou a correr na casa dos 100 quilômetros por hora.
Já o composto da caixa rosa salmão claro possibilitava ao seu consumidor uma força sobrenatural nos braços. Houve até um boato de que um tcheco, que já tinha por hábito o de freqüentar a academia por cinco horas diárias, ao tomar o composto rosa claro passou a freqüentar estacionamentos de caminhão. O lugar passou a ser seu novo centro de treinamentos. Levantamento de Scanias e agachamento com caminhões-baú eram seu maior desafio. Mas boato é boato e ninguém conseguiu entrevistar o tal tcheco.
A terceira mutação possível era a da anti-gravidade. O sujeito que tomasse o Genetix da caixa amarelo desbotado imediatamente ficava imune a ação gravitacional da Terra. Dessa forma, um pequeno impulso era o suficiente para ganhar os ares com uma velocidade tremenda.
No entanto, era a última e quarta mutação gerada pelo remédio que mais atraia o olhar e o dinheiro das pessoas. A substância da caixa branco lácteo era comumente chamada de “milagre traiçoeiro”. O tal milagre era a mutação que tornava o usuário em um não-usuário, ou, melhor dizendo, em alguém invisível e aparentemente inexistente. A traição ficava por conta do fim do efeito a qualquer momento. Esse era o composto mais instável. Enquanto as outras três substâncias tinham um período de duração de 4 horas, o “invisibilizador” podia permitir uma mutação de até 5 horas, ou até mesmo, uma pequena mutação de 1 hora. Infeliz do consumidor que tivesse o efeito de seu Genetix branco lácteo interrompido no momento em que realizava o desejo de andar nu pela avenida Paulista. Um escândalo!
E escândalo foi o que aconteceu após três semanas do lançamento do modificador genético. Como facilmente acontece, a novidade passou a ser usada por criminosos. Após o furto de um grande carregamento de Genetix em uma rodovia paulista, começaram a surgir denúncias de crimes cometidos por super-humanos.
Uma velhinha de 89 anos disse que não teve nem tempo de reagir quando um trombadinha papa-léguas roubou sua bolsa e saiu correndo como se fosse vento. A bengalada da idosa senhora sequer triscou no garoto e ainda acabou acertando uma outra senhora, bem ranzinza por sinal. As duas velhinhas saíram no tapa e uma delas acabou escorregando e quebrou a bacia.
Outro grande problema aconteceu em uma penitenciária no interior do Mato Grosso. De alguma forma, imagina-se que dentro de um bolo gigante de aniversário que entrou despercebido no complexo presidiário, cerca de 100 frascos com o Genetix anti-gravidade foram parar nas mãos, ou melhor, no organismo de 100 detentos. A fuga foi imediata. O único prisioneiro resgatado foi um que voava para visitar a mãe no Rio Grande do Sul. No meio do caminho, o efeito do remédio acabou e o rapaz teve a má sorte de cair no pátio de outro presídio. Dessa vez ficou preso em Caxias do Sul. Ao menos se livrou do calor do Mato Grosso, que ele odiava.
Mas o maior de todos os escândalos envolveu o presidente do Senado Federal. Acusado de corrupção, espionagem e de traição conjugal, o senador resolveu fazer um último discurso.
- Senadoras. Senadores. Venho a este nobre palanque para dizer minhas últimas palavras.
O parlamento ficou em apreensão. Será que o presidente da Casa não havia agüentado a pressão e agora ia se suicidar publicamente?
- Gostaria de dizer que não mereço ser acusado como está acontecendo. Sou um sujeito honesto e que luta pelo povo. Pena que o povo não perceba isso. Pois bem, vou-me embora.
E virou um frasquinho de Genetix. Desapareceu. Imediatamente mandaram trancar as portas do senado. Sabiam que a substância ingerida pelo senador era o “invisibilizador” branco lácteo.
Mas passadas três horas sem nada encontrar descobriram que o parlamentar tinha sido mais esperto. Esbarrou em um segurança, que rapidamente lhe segurou. Mas antes que o fortão o denuncia-se sugeriu: “Te arranjo um frasco de Genetix da cor que você quiser”. Carlão, como era conhecido o segurança, aceitou. Afinal, queria mesmo era fugir da mulher e ir viver em Fernando de Noronha. Ganhou um frasco amarelo desbotado e hoje está lá em Pernambuco, curtindo a praia.
André Leite
2 comentários:
Olha só!
O senhor está indo muito bem, viu!
Muito boa esta, e a outra crônica também. Quando sair a sua coluna na Folha, me dá um toque!
A mutação de um ser humano não é facil para acontecer!!
Ou seja ia precisar de:estudo no asundo testes ciêntistas especializados.
Ai sim daria pra comprovar que mutantes existem.Não vai ser uma pessoa querendo ganhar lucrus "pessoais" que vai sair vendendo rementio para ser mutante.
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