Marcola presidente, nada muito diferente.

. segunda-feira, agosto 28, 2006


Quando se candidatou a presidência pelo demagógico Partido da Liberdade e Dinheiro para Todos, que também causou um enorme frenesi ao se afirmar como partido político, já que era a nova roupagem do antigo PCC, foi altamente criticado por todos os outros concorrentes.

De alguma forma, a política exercida pelos assessores e colaboradores de sua campanha fez o ânimo dos combatentes mais exaltados se acalmar. Houve até quem cochichasse pelos cantos que deputado “Fulano da Silva” havia sido baleado. Tudo desmentido publicamente pelo presidenciável Marcos Willians Camacho, o Marcola, no horário político exibido na TV. O tal deputado havia ido passar férias no exterior. Cortesia do PLDT.

Com mais de setenta por cento dos votos da população, Marcos Camacho subiu a rampa do Palácio do Planalto e agora o brasileiro acreditava numa real mudança de rumos. Afinal, um intelectual com mais de três mil livros lidos e vindo de uma família pobre, onde a mãe, nascida sem nem saber ler e escrever, era o exemplo ideal de sentimentalismo e dedicação para cada brasileiro que apreciava as publicidades do horário político. Apesar de ter sido preso algumas vezes, Marcos Camacho admitiu ter se arrependido de alguns eventuais erros do passado. Seu discurso:

- Quem nunca foi preso alguma vez na vida? Preso pela dor de ver um filho passar fome, preso pela angústia de ter um ente querido assassinado, preso pelas garras implacáveis da discriminação e da pobreza. Preso pela falta de amor e de amparo.

Houve quem chorasse ao ouvir as palavras do presidenciável. Relatou-se até a história daquela velhinha que se dispôs a adotar Marcola como um filho, já que havia se tornado órfão aos nove anos.

Muito bem aprovado, o novo presidente começou a dar as primeiras ordens. Nomeou ministros.

Para ministro da agricultura chamou seu irmão Alejandro Camacho, que agora andava de mãos dadas com o Partido Marijuana Brasileira, em homenagem a maior motivação de todos os filiados, provenientes do antigo Comando Vermelho; para o ministério da cultura escolheu a fluminense Tati Quebra-Barraco, que pelos bons modos decidiu chamar-se Tatiana Mansão e prometia levar a boa música a todos os cantos do país; e para as relações exteriores convocou Fernandinho Beira-Mar, que agora atendia pelo nome de Fernando Pacífico e tinha ótimas ligações internacionais, principalmente com a Colômbia, um forte aliado dos partidários de Marcos Camacho.

Como o país passava pela crise penitenciária, o candidato do PLDT estava no poder justamente para resolver esse problema, afinal conhecia muitos dos que organizavam o tumulto. (Ele, na verdade, admitia nunca ter iniciado um tumulto na sua “história escura”, apenas se juntava ao grupo para poder sobreviver. “Mundo cão”, dizia o presidente). No seu discurso de posse, Marcola se fez próximo dos problemas do cidadão comum e propôs a mudança que, a todos, parecia muito sensata.

- Prezados camaradas e prezadas camaradas, neste momento em que o Brasil passa por uma crise plantada e cultivada por governos anteriores, eu, com o apoio da grande massa popular, me posiciono para que o brasileiro possa viver da forma mais digna possível. E essa forma é a liberdade. Nasci e passei por dificuldades que me fizeram ingressar um dia em uma vida obscura e cheia de tormentos. – Neste momento do discurso, o presidente começava a se emocionar e a forçar algumas poucas lágrimas. Formas de persuasão indicadas por seus marqueteiros. – Mas quero dizer à população que devemos dar uma segunda chance aqueles que um dia se enveredaram pelo mesmo caminho que um dia passei.

Apenas alguns poucos telespectadores eram capazes de duvidar da racionalidade e destreza da operação que parecia se formar na mente do presidente. Porém, Marcola conseguiu convencer em suas palavras finais:

- Se eu consegui vencer e ocupar um digno cargo, como hoje ocupo, sei que qualquer brasileiro, independente de sua índole, pode fazer o mesmo.

Em algumas casas era possível se ouvir urros de alegria, regozijo e esperança perante as palavras do excelentíssimo presidente. A paz seria instaurada e o brasileiro poderia viver sem medo. O comentário era geral na manhã seguinte.

- Muito inteligente esse presidente, não? Essa idéia de dar uma segunda chance aos que tiveram uma infância difícil e precisaram entrar para o crime é brilhante. Uma segunda chance... Que bonito!

- Cara, adorei essa do Marcola. Bonitas palavras. Principalmente aquela parte de “ínjole”. Fiquei tocado.

- Não é “injole”, rapaz. É índole. Tem a ver com classe social, eu acho. É um verdadeiro pai, o nosso presidente. Que pedagogia!

As portas dos cárceres estavam abertas. Houve quem desse abrigo aos novos amigos e privilegiados. O ministro da cultura, Fernando Pacífico, decidiu pedir ao senado que aprovasse o projeto de liberação da maconha, porque só assim, o jovem não iria querer tomar atitudes rebeldes.

- O que faz com que o jovem busque as drogas é a rebeldia. Liberando-se a cannabis, eles perderão o incentivo. – Excelentes as palavras do ministro.

O clima de euforia era geral e a população parecia estar mais satisfeita do que nunca. Marcola presidente! Como nunca havíamos pensado nisso antes?!

De seu gabinete, Marcos Willians “Marcola” Camacho, administrava o Brasil e lia seus livros da forma mais tranqüila e coerente. Até que a sua medida de segurança começou a revelar seus erros.

- Presidente, em São Paulo está havendo uma tragédia. Os ex-presidiários que haviam recebido abrigo de cidadãos de bom coração estão despejando os donos de suas casas e tomando conta de suas residências. Parece que o poder, ou melhor, a liberdade lhes subiu a cabeça.

Havia mais de um milhão de famílias nas ruas mediante a ação dos meliantes. Temia-se um ataque em nível nacional. Esperava-se uma atitude do presidente.

- Quais serão as medidas tomadas presidente? O número de famílias desabrigadas elevou-se para um total de sete milhões só no estado de São Paulo. Rio de Janeiro, Mato Grosso e Minas Gerais também estão sofrendo com casos idênticos.

- Minha cara repórter, a situação não está tão ruim quanto parece. O nosso controle é total. E quanto a ataques posteriores não há com que se preocupar. Repito: Não temos a menor preocupação quanto ao futuro.

- Mas presidente, são milhões de famílias desabrigadas. E tem mais, quem sugeriu essa medida foi vossa excelência.

Em poucos minutos alguns repórteres perguntavam onde estava “a repórter que questionou o presidente”.

Marcola, adepto, desde as eleições, da política de não-violência, pronunciou-se em rede nacional.

- Cidadãos brasileiros, estamos resolvendo a questão das desapropriações de residências. E aos queridos amigos que ainda ocupam os lares que não lhes pertencem, por favor, vamos cooperar. Repito: vamos cooperar. E quanto aos casos de corrupção que dizem estar acontecendo no setor de plantação e exportação de cannabis, posso afirmar que desconheço tal atitude. Sei que o setor prospera muito bem, e, apesar de Fernando Pacífico ser meu amigo íntimo, não sei de nada. Prometo que nada vi e nada ouvi.

Era o primeiro discurso do presidente que não era bem recebido pelos cidadãos.

- Que pouca vergonha! Imagine, ficar falando que não sabia de nada. O ministro Pacífico é super amigo dele. Ele acha que a gente é idiota, é? Não voto mais nele, não.

- Que é isso amiga. Ele deu uma segunda chance aos que precisaram entrar no crime.

- Ah, me poupe. Fique sabendo que a minha prima sofreu na mão de um desses bandidos. Encontrou um na rua que parecia ser muito bonzinho, que dizia estar convertido aos bons princípios e trouxe o safado pra dentro de casa. Não deu duas semanas ela começou a ouvir umas conversas estranhas dele no celular e logo em seguida foi despejada pra fora de casa. Ai, que horror!

- Não sei. Pra mim o Marcola é um exemplo de quem subiu na vida.

Apesar de algumas discordâncias, a insatisfação parecia tomar conta de grande parte da população. Movimentos estudantis começaram a armar passeatas em Brasília, as famílias que haviam sido expulsas de suas casas faziam panelaços em todas as sedes dos governos estaduais e até alguns ex-presidiários começaram a reclamar do presidente Marcos Camacho.

- Pô, o Marcola vacilou com a gente. Falou que ia dar o maior apoio se fosse eleito e tal. Tá loco! A gente acha que pode confiar no truta aí e depois ele passa o rodo na gente. Agora fica mandando esses polícia aí atrás de um monte de nóis.

Como a declaração do bandido insatisfeito havia sido gravada e reproduzida na televisão, quase todo o Brasil assistiu a essa afirmação de cumplicidade entre o presidente e os ex-presidiários. O presidente possuía ligações subversivas.

Pressionado por todos os cantos, Marcola começou a se sentir indisposto para governar. Queria sossego e não balbúrdia. Ameaçado de morte decidiu deixar a presidência, mas antes de fugir para algum paraíso desconhecido se pronunciou pela última vez.

- Prezados camaradas e prezadas camaradas. Percebi nesse meu pouco tempo de governo que é preciso muito mais que uma história bonita para administrar um país. Percebi que é preciso muita inteligência, planejamento e bons assessores. É preciso estar cercado por gente de boa índole. E por falar em boa índole, muitos me perguntaram o que isso quer dizer. Isso, camaradas, é sinônimo de caráter. É preciso um caráter reto para tornar um país em uma nação sólida e bem desenvolvida. É preciso muito mais do que não desistir. É preciso ter educação para todas as pessoas desse país. É preciso querer o bem do brasileiro. Espero que os próximos presidenciáveis se lembrem disso e nem se candidatem à presidência se não tiverem educação suficiente. Tenho dito.

E se mandou do país.

André Leite

2 comentários:

Anônimo disse...

normal que sua fã tinha que aparecer aki neh hahahhahahha...
amor nossa ficou perfeita a cronica..um pouko extensa para o canal mas ficou otimaa dorei de verdadeeeeeeeeeeeee...nosssssaaa certezaaaaaa vc vai ser rico ainda e o melhor de tudo eu serei a esposa hahahhahhahahhaha
lindo parabens pelo seu talento continue usando-o para o bem...
bjaummmmmmm
te adoroo demais viu coisa linda

Tales Tomaz disse...

Excelente texto!