Loucura, loucura, loucura

. quinta-feira, janeiro 24, 2008

Quando alguma coisa fora do comum acontece, o Zé, que, como já disse em uma outra crônica, não tem nada de José, na verdade se chama Robson, geralmente é o primeiro a dizer: Locão! Assim mesmo. Sem o “u” entre o “ó” e o cê. Acho que dá uma sonoridade mais espontânea para a palavra. Se dissesse “loucão”, talvez parecesse ter toques de intelectual. E a intenção dessa interjeição inventada não é mesmo essa. Quer dizer mesmo é que algo é incrível, beirando o impossível.

Sendo assim, aproveito o uso da palavra e insiro neste texto uma coisa de doido varrido que várias vezes me passa na cabeça.

Já comentei com alguns amigos que, em cerimônias de casamento ou em momentos onde há um discurso formal, como uma formatura, fico imaginando como seria se, de repente, eu levantasse, me dirigisse ao palco ou púlpito, e começasse a gritar e dançar. Não precisa ser uma coreografia específica, como a conga ou o “créu” (que por sinal já não agüento mais ouvir quando passo em camelôs que vendem DVD). Qualquer coisa que lembrasse uma dança já estaria valendo.

Essa idéia já me ocorreu mais de uma dezena de vezes. Em algumas delas eu não preciso nem me dar ao trabalho de dançar ou soltar o grito. Penso em simplesmente subir ao palco e dar um bonito soco em quem estiver com o microfone. Imagino a reação das pessoas olhando a cena. “Locão!” Essa seria a palavra do Zé se olhasse a cena da platéia. Agora, se ele fosse o noivo ou a pessoa que estivesse segurando o microfone, talvez tivesse outras intenções. Matar-me quem sabe.

Apesar de ter essas intenções insanas em várias ocasiões, reflito que elas não são o que se pode chamar de “atitudes comuns”. Isso parece óbvio. No entanto, eu geralmente sou classificado como um sujeito normal, do tipo que quer casar, ter família, um bom emprego e fotos na sala de estar. Por que eu, um sujeito normal, penso em fazer uma coisa de doido em cada casamento que vou? (Podem ficar sossegados, amigos que pensam em se casar. Eu não seria capaz de agir de acordo com esses pensamentos. Um mico desses, eu não estaria disposto a pagar de forma alguma).

Comecei a perguntar aos meus amigos e conhecidos que coisa maluca às vezes lhes dá vontade de fazer, mas, com certeza, nunca fariam. Foi uma boa terapia pra perceber que não estou sozinho no mundo das loucuras. Na verdade, ninguém está.

Um dos primeiros que converso me confessa que tem uma vontade louca de esfaquear alguém. Na verdade, não é apenas enfiar a faca em um inimigo ou coisa assim. Diz ele, que a vontade vem quando conversa com alguém em um papo informal, embaixo de uma árvore, com o vento soprando. Aí, ele imagina que pede ao amigo que espere um momentinho e coloca a mão no bolso, como se fosse atender o celular ou pegar a chave do carro. Neste momento é que o plano se concretiza e ele tira a faca do bolso e enfia no bucho do sujeito. Tudo bem rápido, pra causar espanto. (Se bem que, lentamente, a ação também seria de espantar).

Depois, ele disse que assistiria calmamente a morte do amigo, a chegada da ambulância, os policiais o questionando e, por fim, a sua prisão. Mas ele garante: nunca faria isso. “Mas é como a tua idéia de subir no palco dançando e gritando”, ele diz. “Me vem a vontade na cabeça e só”.

Sinto-me um pouco mais normal e questiono agora uma mulher sobre uma doideira que lhe passa na mente. Ela confessa que sua loucura é menos violenta que o esfaqueamento, mas acontece todos os meses. Pra ela, interessante mesmo seria poder furar a fila inteira do banco em dia de pagamento. E, além disso, quando chegasse ao caixa e tivesse dezenas de olhos a fulminando, diz que viraria pra todos e diria: “Furei mesmo, e daí?”

Seria sua realização. Melhor que isso, só se alguém comprasse a briga, tipo uma gordona com porte de leão-marinho. Sairiam as duas rolando pelo chão do banco, puxando cabelos e metendo tapa na cara. “Tipo baixaria, sabe”, diz minha amiga. “Tipo baixaria”, eu questiono. Isso é o auge da baixaria! O Oscar do barraco!

Ela diz que, mesmo assim, acharia o máximo. Mas também se conforma: “Não faria mesmo”.

Continuo minha saga em busca de loucuras e ouço uma declaração surpreendente: “Sabe, eu penso em beijar homens”. Não. Não foi uma amiga. Paro a conversa com ele na hora.

Agora ouço o desejo que outro amigo tem: bicudar e encher de socos aqueles mascotes com roupas fofas, enchimentos e rostos sorridentes. Como os de futebol americano. “Eu morro de vontade de espancar um boneco daqueles. Chegar no socão, sabe?” Imagino. E começo a rir sem parar. Visualizo meu amigo e mais uma série de crianças batendo no bichinho. E o mascote lá, com seu rosto feliz.

“Aliás”, complementa meu amigo, “eu já fiz isso. Uma vez, no Parque do Gugu, dei um soco na barriga de um bichinho da Fujifilm, se não me engano.” Ah, se todos pudessem realizar esses sonhos... Muita gente estaria no hospital, no caixão, ou, então, detrás das grades por atentado ao pudor. Já me explico.

Perguntar sobre coisas que as pessoas pensam em fazer, mas nunca fariam, é abrir as portas da imaginação. Melhor: é escancará-las. Dessa forma, tem gente que pensa em safadeza mesmo. Tipo, fazer na frente de todo o mundo com a Silvia Saint e tal. Mas o espaço não foi reservado pra esse fim. Prossigamos.

Ouço um rapaz dizer que tinha intenções malucas na infância. “Quando era pequeno, morria de vontade de xingar minha mãe quando ela me batia com a cinta”, confessa. E ele queria falar palavrão cabeludo mesmo. Que deixaria a mãe de cabelo em pé. “Mas isso não é loucura”, eu questiono. “É que você não conhece a minha mãe”, ele se defende e me deixa calado.

Continuo a angariar outras maluquices entre meus amigos e descubro algumas que, assim como a de xingar a mãe, não parecem tão doidas. Mas quando se avalia toda a realidade, compreende-se a insanidade da ação.

“Sabe, eu já quis ser vereador. Vê se pode?” Concordo rapidamente. Deve ser loucura mesmo se meter em política. Afinal, vender seus princípios para continuar no poder é insanidade total.

Vassouradas na cabeça de quem empaca no meio do shopping, tapas em autoridades, tapas em namoradores da sua namorada com direito a sotaque de carioca (“Aí, mermão! Tá olhando o quê? Fica experrrto”), segurar em cerca elétrica, pular do prédio e não morrer, enfim, descubro mais uma série de loucuras que, se realizadas, causariam olhos roxos, dentes quebrados ou um ataque cardíaco.

Ainda tenho tempo de ouvir mais uma idéia. Essa não é doida, mas é interessante. “Eu já quis participar do Big Brother”. “E faria o quê na fita pra ser classificado”, eu pergunto. “Nada”, é a resposta. “Ia ficar 30 segundos olhando pra câmera sem dizer nada. Só olhando seriamente. Sem rir. Com cara de bravo. Já pensou?” “Ia ser inovador”, eu penso.

Em minha conversa final com o doido da faca eu proponho: “Quem sabe eu não realizo a minha loucura no seu casamento. Que tal? Eu não cobro nada”.

“Isso”, ele responde. “Aí eu enfio a faca na sua barriga. Também não vou cobrar nada”.

Desisto da idéia.

3 comentários:

Clarissa disse...

Eu tenho vontade de chegar numa festa cheia de pessoas todas certinhas e conservadoras, subir em cima de uma mesa e dançar o tema da Pantera cor-de-rosa para ver as caras de espanto.

xD


Maaaas, é só vontade. Se for no casamento da sua dancinha na hora do discurso e da consecutiva facada, talvez eu até encare subir na mesa...

Anônimo disse...

eu tenho vontade de me jogar da ponte, mais na hora H tenho medo! ;/

Anônimo disse...

tenho uma grande loucura, que na verdade não defini se é uma loucura ou um desejo de grávida, apesar de nunca ter me encontrado em tal estado.
sou louca para comer filtro de barro e telha de barro... morro de vontade todas as vezes que vou beber água em casa ou quando passo em frente de uma construção.
e antes que você me pergunte, não é verme não. tenho essa vontade desde quando surgiu tambám minha vontade de comer aquela esponja de lavar louças ( verde e amarela.
loucura?