Oscar Tupiniquim

. terça-feira, abril 15, 2008


- E o Nascimento de melhor filme estrangeiro vai para... Sad Memories, de Steven Spielberg!

Spielberg como diretor de um filme estrangeiro? Como assim? E que raios é um “Nascimento”? Simples: é o Oscar na versão tupiniquim. É o cinema de Sinatra ficando para trás e quem manda agora é o cinema da terra de Tom Jobim.

Bem, depois de um pouco de rima e poesia, a explicação.

Após o sucesso de Tropa de Elite nos cinemas brasileiros, norte-americanos e camelódromos, a produção cinematográfica do Brasil ganhou status, importância e, principalmente, dinheiro. Alguns críticos de cinema yankees até tentaram conter o avanço da “onda verde e amarela”, mas a qualidade dos roteiros e da interpretação dos atores brasileiros emocionou corações ao redor do planeta e encheu os bolsos de produtoras, distribuidoras e vendedores ambulantes. O cinema brasileiro ultrapassou Hollywood.

Uma das primeiras conseqüências dessa internacionalização maciça da produção brasileira aconteceu com os atores nacionais. Antônio Fagundes, Regina Duarte e Bianca Rinaldi (Quem???) deixaram as capas de Contigo! e Caras para ilustrar as internacionalíssimas People e Vogue. Facilmente, Reinaldo Gianechinni e Thiago Lacerda ocuparam as posições anteriormente pertencentes a Brad Pitt e Johnny Deep. Kaiky Brito acabou se tornando uma espécie de Leonardo Di Caprio na época de Titanic.

E as coincidências entre os dois atores não ficaram apenas no fato de os dois serem considerados “gracinhas” e promissores no mercado cinematográfico. Assim como DiCaprio despontou em um longa que contava a história de um navio que afundou, Kaiky alcançou o estrelato e os porta-retratos de meninas ao redor do mundo após o brilhante Bateau Mouche, uma noite de brilho e terror.

No entanto, o estrelato não traz apenas luzes. Os paparazzi invadiram o território brasileiro e passaram a perseguir as novas estrelas internacionais. “Juliana Paes vai à praia e não tem mais o mesmo derrière de antes”. “Stephany Brito namora outro jogador de futebol. Ela é maria-chuteira?” “Vera Fischer dá ‘pití” e tenta se matar outra vez”. “Dercy Gonçalves completa 120 anos e recebe centenas de convites para estrelar filmes de terror”. Era o ônus de se tornar internacionalmente famoso.

Mas quem colheu as conseqüências do sucesso brasileiro no exterior não foram apenas os atores. A língua portuguesa também se propagou mundo afora. Assim como um dia o cinema norte-americano colaborou com a divulgação da língua inglesa, agora o brazilian way of movies, ou melhor, a forma brasileira de cinema, fez com que o português se tornasse a segunda língua mais falada no mundo.

Digo segunda porque ninguém é capaz de ultrapassar os chineses em número de filhos. Sendo assim, o mandarim (e pra quem ainda não sabia, saiba agora que o que se fala na China não é chinês e, sim, mandarim) continuou sendo o idioma mais falado do globo.

E por falar em globo, a Globo deixou de lado as novelas e passou a se dedicar exclusivamente ao cinema. Mas como não queria deixar de passar o folhetim televisivo todas as noites, passou a importar os melodramas mexicanos. Que importavam alguns reais em publicidade todas as noites se era possível arrecadar milhões com um filme de Rodrigo Santoro? Viva o cinema brasileiro!

Muito mais podia ser dito sobre as mudanças ocorridas e o dinheiro obtido com a nova ordem no cinema mundial. Mas é preciso apenas mais um acontecimento para comprovar o sucesso absoluto do cinema brasileiro: a instituição do Nascimento. Hã?

Como Tropa de Elite havia sido o filme que delimitou a era pós-Hollywood, o capitão Nascimento, personagem de Wagner Moura, ganhou status de ícone da sétima arte. Sendo assim, nada mais justo do que nomear o maior prêmio do cinema mundial como Nascimento. Se o antigo prêmio norte-americano podia ter o nome de Oscar, o brasileiro podia, ou melhor, devia ter um nome masculino: Nascimento.

Só causava certa estranheza a frase dita após o vencedor do prêmio Nascimento receber o troféu em forma de um capitão do BOPE segurando um fuzil:

- Agora que você já está com o prêmio na mão, queridão: pede pra sair.

E o sujeito descia do palco. Ao menos, descia feliz da vida.